Com a devida vénia, transcrevemos artigo publicado na edição de hoje do Dário Económico.
Novo Banco: o que fazer?
Francisco Murteira Nabo
O anúncio de que o Novo Banco teve em 2015 um prejuízo de cerca de mil milhões de euros e de que irá despedir, este ano, mil trabalhadores do seu quadro de pessoal tornou inevitável o ressuscitar da discussão em torno da solução “Fundo de Resolução”, encontrada pelo Banco de Portugal para o BES.
Parecem agora mais óbvias as “Conclusões” do livro “Caso BES – A Realidade dos Números,” que veio a público em junho do ano passado.
Em síntese diz o livro: a) Porque o ciclo financeiro em regra reforça a ligação entre o sistema financeiro e a economia real, numa crise, o ciclo conduz a significativos excessos de concessão de crédito; b) Porque por vezes uma parte relevante das dívidas públicas está encoberta, o endividamento privado e público pode também encobrir uma parte substancial da dívida; c) O endividamento em regra limita o investimento produtivo; d) O efeito da crise foi muito diferenciado por países e setores, tendo tido efeitos negativos muito elevados nos setores de atuação do GES; e) Para uma economia como a portuguesa o papel dos conglomerados mistos é essencial; f) O BES/GES constituía um conglomerado misto estruturante e um centro de racionalidade da economia portuguesa; g) O BES era um banco de referência e estruturante da economia portuguesa; h) A área financeira do Grupo GES estava muito endividada e com forte pressão de liquidez; e i) Em termos de sustentabilidade não se pode questionar o princípio do ‘going concern’ e esperar que não tenha repercussões no Grupo, como um todo.
Assumindo como válidos estes pressupostos – hoje ainda mais evidentes do que à data da publicação do livro - e aceitando a sustentabilidade a prazo do Grupo, como um todo, o que o ETRICC 2 à época demonstrava, o livro conclui que: a) O ‘ring fencing’ foi uma solução desajustada que não teve em consideração a realidade do conglomerado misto que era o Grupo; b) A crise não explica a queda do Grupo BES/GES, mas potencia o efeito falhas de gestão e dos decisores públicos; c) Para a economia nacional seria melhor ter mantido a continuidade do Grupo, mesmo com uma estrutura acionista diferente.
No momento em que se discute se se deve ou não nacionalizar o Novo Banco, o que parece importante, hoje como ontem, é que se criem rapidamente condições não só para o relançamento de uma estratégia de recriação de centros de decisão competitivos, de preferência nacionais - que desapareceram por completo do país – e que o sistema bancário recupere a sua sustentabilidade, voltando a ser parceiro e amigo das empresas, ajudando-as no crescimento e na criação de riqueza, o que hoje infelizmente não acontece. A propriedade pública ou privada do banco, embora politicamente relevante, pouca importância tem em termos de desenvolvimento económico!
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