Por Eduardo Alves
Coordenador do Secretariado Regional de Coimbra

Todos sabemos que o ano de 2020 não foi fácil para os bancários, não só por causa da pandemia e de tudo o que à sua volta gravitou, mas também porque o processo de redução de efectivos por parte dos bancos não abrandou, aumentando a incerteza e a ansiedade daqueles trabalhadores, que considerados essenciais, estiveram na linha da frente, esquecidos, contrariamente a outras profissões, por governantes e pelos órgãos de comunicação social.

Não será de estranhar, por conseguinte, que tenhamos chegado ao fim de 2020 com uma redução de mais 1.222 trabalhadores bancários e o encerramento de 169 agências.

Evolução do número de agências e trabalhadores bancários (fonte: Banco de Portugal)

Os bancos vêm justificar estas reduções com a adaptação dos modelos de negócio às novas necessidades dos clientes, à crescente digitalização do negócio bancário em contexto de pandemia, conjuntamente com a necessidade de racionalizar a estrutura de custos, dada a forte concorrência, para uma melhoria da eficiência operacional, e o cenário persistente de juros baixos promovido pelo Banco Central Europeu (BCE).

Num ano tão atípico, como foi o de 2020, o volume de negócios na banca cresceu. No crédito às empresas mais de 10%, no de particulares 1,6%. Os depósitos cresceram também cerca de 5% para os 279,8 mil milhões de euros. Estes dados situam apenas a actividade doméstica.

Por outro lado, verificou-se um reforço dos níveis de solvabilidade, com os rácios CET1 e de solvabilidade a robustecer, o que, refere, por seu turno, a APB, permitiu aos bancos “continuar a dar uma resposta eficaz às necessidades de financiamento da economia”.

Desde a crise de subprime de 2008 o forte ajustamento que a banca promoveu conduziu ao encerramento de perto de 3.000 agências bancárias e à extinção de mais de 18 mil postos de trabalho. Um número preocupante e que tenderá a aumentar, de acordo com projecções que têm vindo a ser divulgadas por alguns órgãos de comunicação social, apontando para uma redução de cerca de mais 5.000 trabalhadores num horizonte temporal de três anos.

Não podemos, nem devemos, permitir que a tendência que tem vindo a ser reforçada pelos mais recentes desenvolvimentos do processo em curso numa instituição financeira se torne “o” modelo para todas as outras.

Desde a crise de subprime de 2008 que os trabalhadores bancários, com muita determinação, resiliência, abnegação e deterioração da sua própria saúde e da sua vida familiar, têm mostrado, de forma indelével, a capacidade de gerar  resultados, em cenários extraordinariamente adversos, com objectivos comerciais extremamente agressivos e ambiciosos e parcas perspectivas de carreira.

Para a inevitabilidade da reorganização do modelo de distribuição dos bancos é da mais elementar justiça que, num cenário de reajustamento do número de trabalhadores, os bancários mereçam que lhes sejam apresentadas propostas sérias, dignas e sensatas, com total transparência e adequadas à realidade de cada um, sem pressões das instituições, de advogados ou consultores por aquelas contratados.

Mais do que dizer que querermos estar do lado da solução, devemos mostrar que estamos do lado da solução,  procurando, sempre, sempre, defender o superior interesse dos trabalhadores bancários e privilegiando, sempre que possível, o diálogo e a negociação, mas nunca, nunca descartando toda e qualquer outra forma de manifestação pública da posição que assumimos nessa defesa intransigente.

Fontes: Jornal Eco, Jornal Público, Banco de Portugal, Associação Portuguesa de Bancos

 

Artigo de opinião originalmente publicado no Jornal dos Bancários nº 24 de Maio de 2021