Por Sequeira Mendes
Responsável pelo Posto Clínico do SAMS Centro das Caldas da Rainha

TRABALHADORES E SINDICALISTAS NA MIRA DA DITADURA DE IVAN DUQUE

Os colombianos não exigem apenas o fim da repressão, do estado policial, responsável por inúmeros assassinatos que, segundo fontes sindicais, atira para a pobreza 42,5% da população colombiana e entre 50 a 60% para o setor informal da economia. Exigem, também, o fim deste sistema tão desigual, quanto desumano.

O estado colombiano está em guerra declarada contra o seu povo, contra as organizações dos trabalhadores e contra os movimentos sociais, o mesmo que é dizer que está contra a esquerda colombiana.

Esta situação não é nova, se tivermos em conta que desde a primeira década de 2000, sob a administração do então presidente Uribe, também ele de má memória, teve início uma política de terrorismo de Estado para gerir e subverter as desigualdades na Colômbia, agravada, agora, com a desintegração social, originada pela Covid 19 e pelo neoliberalismo.

A greve geral de 28 de abril pp, decretada pelas centrais sindicais colombianas, estendeu-se a todo o país, formando uma frente comum contra a reforma do sistema tributário regressivo. O ministro da Fazenda, Alberto Carrasquilla, decretou um imposto de 19% sobre todos os bens e serviços que se destinam a satisfazer as necessidades básicas do quotidiano e da subsistência das pessoas e famílias, na mesma linha da reforma tributária implementada em 2019, quando isentou as empresas e o setor bancário do pagamento de alguns impostos, o que constitui um dos motivos do brutal deficit das suas contas.

Para agravar esta situação, a Colômbia teve um lockdown dos mais longos e severos do mundo, arrastando para grandes dificuldades não só a classe trabalhadora como a classe média colombiana, o que equivale a dizer que foi uma queda abismal  para mais de metade da população no que diz respeito ao seu rendimento. Por sua vez o sistema de saúde colombiano colapsou, principalmente na capital Bogotá, em Cáli, em Medellín e nas principais cidades, com os sindicatos a acusar o governo de má gestão da pandemia e de corrupção.

Os trabalhadores portugueses e as suas organizações representativas devem juntar a sua voz protestando contra a onda antissindical e contra a vaga de assassinatos que se instalou na Colômbia, perpetrados, na sua grande maioria, por grupos paramilitares que o governo de Duque permite que atuem impunemente. De acordo com fontes locais (Indepaz), mais de 70 pessoas já foram assassinadas desde que esta greve começou, das quais 49 terão sido perpetradas pelas forças da polícia colombiana.

Decorrente deste caos social, do estado policial instalado, a atividade sindical é completamente impossível de se desenvolver, com os sindicalistas a serem perseguidos e assassinados, com a contratação coletiva quase reduzida a zero e com o desemprego a crescer de forma alarmante.

Apesar desta reforma tributária ter sido revogada, provocando um recuo do ditador Duque, aumentaram os protestos e as manifestações, em parte porque o governo pretende introduzir reformas na saúde e na previdência que, a serem  implementadas, atingirão ainda mais a classe média e os trabalhadores informais.

O Comité de Greve que abarca representantes de toda a sociedade colombiana e que arrasta atrás de si a grande maioria da classe média, já pede a renúncia de Duque, ficando a sensação de que o grosso da população urbana já está a retirar-lhe o apoio.

A denúncia e o apelo de ajuda dos sindicatos colombianos, relativamente à situação alarmante que se vive na Colômbia, que estes fizeram ao mundo do trabalho, insere-se numa visão internacionalista do mundo operário que está, hoje por hoje, cada vez mais na ordem do dia. Não podemos, pois, deixar cair esta estratégia fundamental da emancipação dos trabalhadores. A solidariedade e a fraternidade devem ser o cimento que podem unir a classe operária dos diferentes países. Citando Waterman, “o internacionalismo sindical constitui a primeira forma de auto-conexão dos trabalhadores na era capitalista (nacional/industrial/colonial), tendo dominado o internacionalismo operário no século XX”.

Apesar da falta de solidariedade com que atualmente nos deparamos, e que decorre de múltiplos fatores, nada invalida que não prossigamos nesta senda internacionalista para que logremos atingi-la, identificando as causas que impedem o seu sucesso.

Finalmente, constatamos que foi exatamente o capital que se internacionalizou com êxito.