Por Nuno Carvalho
Secretário substituto do Sindicato dos Bancários do Centro

Vou contar-vos um sonho que tive uma destas noites. Um sonho estranho, ou talvez não… mas que era esquisito, lá isso era…

Então, sonhei que me tinha deslocado a uma agência bancaria para abrir uma conta e qual o meu espanto quando em vez de pessoas encontrei uma máquina de vending, que em vez de produtos alimentares, café e galões, estava abastecida com produtos financeiros, seguros, serviços de cristal, relógios...

Não convencido, decidi procurar outra nas imediações, bem, imediações é como quem diz, e agora surge-me uma Agência Outlet, com produtos à beira do prazo de validade, já em fim de comercialização, ou não colocados nos objectivos dos trimestres anteriores, mas… e… os bancários... onde estavam? Mais uma vez, serve-te e utiliza as máquinas. Mas eu só tinha moedas e a máquina só aceitava cartão…

A minha ansiedade foi aumentando, não desisti, continuei a procurar, será que tinha finalmente encontrado uma agência com pessoas? Oh, não…. Uma agência com atendimento por videoconferência. Surgiram milhares de perguntas a fervilhar na minha mente! Onde estará este colega que está a falar comigo, através de um ecrã? Há quantas horas estará a fazer esta tarefa? Qual será o seu horário de trabalho? Tomou pequeno-almoço? Teve tempo para ir levar o filho(a) à escola? Vai ter tempo para almoçar? Irá trabalhar até que horas? Teria um corta-unhas? Será que era mesmo uma pessoa? Ou era um holograma que me estava a confundir?

A agitação foi tal que acordei. Só aí me apercebi que era um sonho. Mas terá sido um sonho ou a premonição do futuro no pesadelo de um Bancário preocupado com o futuro da nossa classe?

Deixaram os trabalhadores bancários de ser importantes para a relação, que até há bem pouco tempo era palavra de ordem? A proximidade tantas vezes defendida pelos directores comerciais é agora pífia? A apresentação personalizada de produtos distintivos e diferenciadores, também se quererá contactless?

Serão as máquinas tão flexíveis como o ser humano? Serão as máquinas capazes de pensar fora da caixa, para resolver as questões levantadas pelos Clientes? São estas as máquinas que irão proporcionar aos trabalhadores, que não irão ter colocação no mercado de trabalho, um rendimento universal para viver? Irão estas máquinas passar a pagar impostos como todos os seres humanos? Conseguirão os Bancos funcionar só com Administradores, Directores e Máquinas? O futuro dar-nos-á a resposta.

Senhores Decisores, nós, Bancários, somos pessoas, com família, casa e necessidades de todos os tipos, das fisiológicas às de realização pessoal, como diria Maslow.

Assim como vós, Senhores Administradores, queremos manter os nossos postos de trabalho e para isso lutamos diariamente e continuamos a ser produtivos, contribuindo positivamente para o normal funcionamento da banca.