Por Flávia Teixeira
Enfermeira no Posto Clínico do SAMS Centro de Viseu
O calor instalou-se e trouxe com ele questões relacionadas com a protecção solar.
O sol é benéfico e é necessário saber conviver com ele de forma equilibrada e adequada. Ao contrário de outras vitaminas, a vitamina D pode ser produzida pela pele através da exposição aos raios UV. A vitamina D é essencial ao bom funcionamento e equilíbrio do nosso organismo, crescimento, humor e produção de melatonina. Desempenha um importante papel na regulação do metabolismo ósseo, promovendo a absorção do cálcio e evitando a sua eliminação por via renal. Tem ainda um papel a nível muscular, imunológico e do sistema nervoso prevenindo o declínio cognitivo.
A protecção solar funciona pela existência de filtros solares: físicos/minerais; químicos/orgânicos. Os filtros UV são substâncias contidas nos protectores solares com vista a diminuir a exposição cutânea a radiações. Os filtros físicos são partículas de pequenas dimensões que atuam como espelho e reflectem a radiação ultravioleta, formando uma barreira na pele, não sendo absorvido. Recomendados na idade pediátrica. Os filtros químicos atuam absorvendo a radiação UV, captam a energia incidente e reemitem como radiação térmica, inofensiva para a pele. A vantagem deste filtro é que não deixa vestígios na pele; ao contrário dos filtros minerais que deixem um branco intenso na pele.
O Factor de Protecção Solar (FPS) é a medida da eficácia de um protector solar. É obtido pelo tempo necessário para a pele com protecção ficar com eritema, divido pelo tempo que demoraria sem protecção. Um FPS alto não implica que a protecção seja 100%, já que existe uma pequena percentagem de radiação UV que atinge a nossa pele e é suficiente para o metabolismo, ou seja, ao usar protector solar obtemos vitamina D e fazemo-lo em segurança.
Ao falar em exposição solar falamos também de raios: UVB e UVA. Os raios UVB penetram pouco na pele mas são os que causam queimaduras, eritema e aumentam o risco de cancro. Estes atuam nas células produtoras de melanina, activando a sua produção, sendo responsável por manter a cor bronzeada da pele. Os raios UVA penetram na derme, danificando a elastina e o colagénio da pele – proteínas responsáveis pela textura, elasticidade e firmeza. São responsáveis pelo fotoenvelhecimento da pele, oxidam a melanina e levam a um bronzeado rápido que desaparece com facilidade. Em suma, a produção de melanina e a sua oxidação são processos acelerados pelos UVB e UVA, pelo que, a coloração bronzeada da pele não é sinonimo de saúde.
A Skin Cancer Foundation e a DGS recomendam um protector solar de amplo espectro, resistente à água, com FPS 30 ou superior para qualquer atividade ao ar livre e, independentemente do FPS é importante aplicar cerca de 30 minutos antes de sair de casa e reaplicar a cada 2horas ou imediatamente após nadar ou suar.
A exposição prolongada tem efeitos nefastos e cumulativos que se traduzem pelo fotoenvelhecimento caraterizado pelo acentuar de rugas, manchas pigmentadas ou hipopigmentadas, fragilidade cutânea e risco acrescido de cancro de pele. A exposição súbita e/ou esporádica mas intensa e em horários inadequados favorece o eritema ou queimaduras solares que são frequentemente indutores de nevos atípicos ou de lentigos solares (tipo sarda) em áreas como o decote ou ombros quando não protegidos adequadamente. A associação entre a exposição solar e o cancro da pele está bem estabelecida. Segundo a Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo (APCC), em Portugal, a incidência dos vários tipos de cancro da pele tem vindo a aumentar devido essencialmente a uma exposição solar exagerada ou inadequada. Estima-se que por cada queimadura solar o risco de melanoma duplique.
A fotoproteção, no entanto, não se resume ao uso do protector solar mas também de todo o vestuário adequado. Conselhos:
- Exposição solar lenta e progressiva;
- Horas «seguras» - regra da sombra (a sombra deve ser maior do que nós);
- Evite a exposição em horas de risco (12h-16h);
- Use chapéu, de preferência, de abas largas e óculos escuros;
- Na pele exposta use protector solar adequado ao tipo de pele, índice superior ou igual a 30 e coloque-o antes de sair de casa. Renove a cada 2h ou se nadar ou se suar;
- Proibida a exposição de bebés com menos de 6 meses e evitar a exposição direta de crianças com <3anos;
- A radiação UV reflecte na maioria das superfícies por isso, mesmo à sombra, fotoproteja-se;
- Faça o auto exame da pele com regularidade (2 em 2meses);
- Se tiver qualquer dúvida em relação a um sinal que surgiu ou se modificou não hesite em contactar o dermatologista.
Fontes: Ordem dos Médicos; Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo; DGS