Colaboradores a tempo-parcial em localidades sem agência, ter promotores comerciais nas mesmas e dar apoio ao uso de computador entre opções em estudo.

Perante uma torrente de questões e pedidos de esclarecimentos apresentados por deputados de todos os grupos parlamentares sobre a decisão da Caixa Geral de Depósitos (CGD) de encerrar cerca de 60 agências um pouco por todo o país, o Ministério das Finanças fez chegar à Assembleia da República uma idêntica torrente de respostas a todos os grupos parlamentares. Todas dizem o mesmo mas cada uma das solicitações dos partidos foi respondida.

O encerramento de 61 agências bancárias por parte da CGD só este ano tem motivado protestos um pouco por todo o país, com as populações das regiões afetadas a verem-se mais uma vez na linha da frente dos cortes exigidos pelas autoridades, europeias ou portuguesas.

Apesar do plano delineado para o banco público tentar cumprir a promessa de manter a presença da CGD em todos os municípios – “onde já se encontra” -, os fechos de balcões vão afetar todo o país, de Norte a Sul, não esquecendo – ou esquecendo, neste caso – as regiões autónomas. E o Ministério das Finanças decidiu explicar não só o porquê destes encerramentos como também as alternativas que estão em estudo – isto além da espécie de banco-navette que o grupo vai lançar. E todas as alternativas podem vir a ser uma opção real, basta lembrar que mais do que as 61 agências que vão ser fechadas em 2017, haverá outras 110 que têm de desaparecer até 2020.

As primeiras justificações que a tutela apresenta para os encerramentos prendem-se, como não poderia deixar de ser, com o argumento economicista: “Para que a CGD possa cumprir a sua missão de forma sustentável, tem de estar assegurada a viabilidade económica da operação bancária, afastando-se cabalmente qualquer cenário que implique necessidades de capitalização futura”, defende o ministério nas respostas aos partidos.

E para que se afaste “cabalmente” qualquer necessidade de capitalização futura, foi então desenhado um “Plano Estratégico” – que não é mais que um novo plano de reestruturação – para que a CGD beneficie de “medidas de incremento de eficiência”. Neste plano, defende o MF, as medidas a implementar “terão sempre subjacente a preocupação com a compatibilização das prioridades essenciais de prestação de serviços de qualidade às populações e a garantia de viabilidade económica”.

E que plano será este afinal? Fácil: rever o modelo comercial da CGD e redimensionar a rede do banco, de modo a ajustar a sua presença ao “potencial económico e de desenvolvimento de cada localidade”. Para isto, diz o Ministério de Centeno, o banco vai analisar “atentamente” a rentabilidade de cada unidade de negócio, a dispersão geográfica e o “potencial ou atratividade da respetiva zona de influência”. Já o banco público, em esclarecimento enviado esta semana às redações, referiu sobre este ponto que também será tida em conta a rede viária ou a facilidade de acesso, além das distâncias em relação às agências da CGD mais próximas.

Quanto a eventuais matérias relacionadas com serviço público, nada é referido. Antes fala-se em modernização tecnológica. É que ao mesmo tempo que é exigido à CGD que corte em colaboradores e balcões por razões de eficiência, o banco “depara-se com um importante desafio de modernização, no sentido de ir ao encontro de novas formas de operar no setor bancário que acompanhem a tendência de digitalização da economia”, diz já a tutela. E este é um desafio “que não passará ao lado do banco público e será determinante para a revisão do modelo comercial do banco”, assegura o ministério.

Mas que opções vão sobrar para os habitantes das zonas que fruto do desaparecimento do banco público veem o acesso a mais um serviço público essencial dificultado? Aqui a tutela lembra que a decisão não é do acionista-Estado, antes da administração de Paulo Macedo – que já foi responsável pelo fecho de unidades hospitalares e centros de urgência pelo país fora quando foi ministro da Saúde no anterior Governo.

As opções além do “banco-navette”

Apesar de a decisão caber em última análise ao presidente escolhido pelo governo para o banco público, o Ministério das Finanças tem-se mantido a par das medidas que vão sendo analisadas pela administração para “compensar” os clientes que vão perder acesso às suas agências bancárias.

Segundo a tutela, os cortes nos balcões vão ser acompanhados “de medidas adicionais para garantir a continuidade e acessibilidade dos serviços aos clientes abrangidos”. O elencar destas medidas começa desde logo por repetir as ideias anteriores, sublinhando que haverá uma “adequação da estrutura de recursos humanos, com realocação de todos os trabalhadores e do parque de caixas automáticas”. Aqui o ministério procura realçar a ideia já antes defendida pela própria CGD, de que o reajustamento da rede não irá resultar em despedimentos.

Em nota enviada às redações esta semana, a CGD já tinha apontado que “todos os colaboradores” visados pelos encerramentos “serão recolocados em outras agências”, garantindo ainda que “muitos deles irão melhorar a qualidade de serviço ao cliente nas agências integradoras”. Quanto à rede multibanco, a CGD referiu que esta rede será reforçada “nas zonas não urbanas” e com áreas de self-banking.

Nas respostas aos grupos parlamentares, a tutela salienta também que está em estudo a hipótese de ter-se uma CGD a tempo parcial em algumas localidades, através da “presença temporária de colaboradores, a tempo parcial”, nas zonas que ficarem sem agência. Algo a que também o banco já se tinha referido, apontando que “existirão ações de apoio em 17 localidades, com a deslocação ou permanência da equipa comercia”, isto além do banco-navette.

Nestas ações de apoio, e de novo segundo o MF, poderão estar também envolvidos “promotores comerciais” para prestação de apoio adicional a munícipes, tal como “apoio adicional à utilização de meios digitais”.

Como sabem os clientes que as agências vão chegar?

Por fim, e reportando novamente ao esclarecimento enviado pelo banco público, a CGD avançou que os clientes com contas em agências que vão ser fechadas serão contactas por uma carta subscrita pelo gerente da agência para onde será transferida a sua conta a informar sobre a mudança.

Esta informação será também fixada na porta das agências que encerram e com dados sobre as agências alternativas mais próximas. O cliente da CGD poderá, contudo, escolher qual a agência para onde quer transferir as suas contas.

Apesar de todas as opções e encerramentos em estudo e também já em curso, o Ministério das Finanças termina a sua resposta aos partidos assegurando que a CGD continuará “um banco público estável e acessível aos cidadãos e às empresas”.

Notícia aqui

Créditos
Filipe Paiva Cardoso e Cátia Simões - Dinheiro Vivo
28 de abril de 2017