O Manuel entra às 8 horas, tal como o Pedro e a Inês, para fazerem o briefing do dia, lerem os muitos e-mails que já os aguardam, preparar a tesouraria, saberem quais são os novos objectivos com os quais o seu balcão, sem que tenham sido consultados, se comprometeu e abrir ao público às 8h30.

O Manuel, o Pedro e a Inês, trabalhadores dedicados e empenhados, dão a cara pela sua Instituição de Crédito diariamente, pela qual “vestem a camisola”, tendo um papel importantíssimo nos anos em que as dificuldades se fizeram sentir no sector, graças à confiança que os Clientes neles depositam e à relação que se criou durante anos.

O Manuel, o Pedro e a Inês sujeitam-se, demasiadas vezes, a horas sucessivas de trabalho suplementar não remunerado para conseguir responder aos e-mails da hierarquia e contactar Clientes, porque a pressão para atingir aqueles ambiciosos objectivos é persistente e cada vez maior.

O Manuel, o Pedro e a Inês entregam, com muito esforço, os objectivos, contribuem para que a sua Instituição de Crédito registe avultados lucros e não vêem a sua tabela salarial alterada há anos.

O Manuel, o Pedro e a Inês são o espelho de milhares de Trabalhadores bancários que durante a última década viram o seu poder de compra decair 12,2%, mais de 12.000 colegas saírem da banca e o encerramento de mais de 2.000 balcões.

Um estudo da Oliver Wyman estima que Portugal é dos países europeus com menos trabalhadores em bancos face ao número de habitantes. Assim, a consultora refere que, no final de 2016, havia em Portugal 45,1 bancários por cada 10 mil habitantes, um número 20% abaixo dos 56,7 bancários que havia em 2012 em Portugal por cada 10 mil habitantes. Mas os objectivos comerciais, esses, são cada vez mais exigentes.

É também do conhecimento público que em 2017 cinco dos maiores bancos a operar em Portugal apresentaram lucros agregados de 714,9 milhões de euros e que entre janeiro e março de 2018, os lucros dos bancos portugueses aumentaram 37 vezes, por comparação com o mesmo período do ano passado, para 490 milhões de euros.

E é, após uma contundente reestruturação de todo um sector, com o contributo do Manuel, do Pedro e da Inês, os mesmos que não vêem a sua tabela salarial alterada há anos, que estes números se atingem!

Estes resultados que os bancos têm registado em Portugal, a par de uma melhoria substancial dos indicadores de risco dos seus balanços, de uma rendibilidade dos capitais próprios e do activo positiva em 2017 e de um outlook favorável para o crescimento económico do nosso país, alinhados com as expectativas das próprias Instituições de Crédito para os anos que se avizinham, que apontam para uma redução das imparidades e para o incremento da margem financeira e do produto bancário, concorrendo para uma melhoria dos resultados, leva-nos a defender que, num momento em que as Instituições de Crédito afirmam dar mais valor às pessoas, deveriam inequivocamente demonstrá-lo!

Quando a generalidade dos sectores produtivos está a propor aos seus trabalhadores aumentos salariais médios superiores a 100 basis points (a título de exemplo, os cerca de 100 mil trabalhadores da indústria metalúrgica e metalomecânica tiveram aumentos salariais médios de 2,2%), o GNIC (Grupo Negociador das Instituições de Crédito) avança com 0,6% (sessenta basis points), um valor que está ainda muito longe daquele que a FEBASE defende como justo para compensar os Trabalhadores bancários por anos sucessivos sem aumentos e com o qual não podemos concordar!

É, pois, hora de incluir os Trabalhadores nesta equação, fazendo votos para que impere o bom senso no seio do GNIC e que a máxima que dá título a este editorial, “Quando as diferentes vontades concorrem no mesmo sentido, os resultados aparecem”, muito corrente nas instituições financeiras quando se trata de exigir objectivos ambiciosos, muitas vezes inatingíveis, possa ser uma realidade nesta revisão salarial.

Helena Carvalheiro
Presidente do SBC

in Revista Febase nº 84
Editorial