O verão do nosso (des)contentamento

Artigo de opinião por Helena Carvalheiro*

 

O verão de 2017 ficará gravado na nossa memória e será, sobretudo, por razões inquietantes!

Assistimos a incêndios devastadores que bateram os piores recordes atrás de recordes: o número de incêndios num só dia, área total ardida, área média ardida por incêndio; com uma cobertura mediática nunca antes vista, inclusive com jornalistas a raiar o limite da ética (como a tristemente “famosa” reportagem de Judite de Sousa durante o incêndio de Pedrógão).

Enquanto isso, Portugal tinha cerca de 80% do território em seca severa ou extrema no final do mês de junho e, das 60 barragens no continente, 18 registam menos de metade da água que conseguem armazenar.

Constatámos que há muito ainda a fazer na interligação entre os vários agentes que intervêm em situações de crise e acidentes, não só pela recorrente falha de um sistema de comunicações que custou muito aos contribuintes, como ao protocolo de crise do Estado, que precisará de ser adequado à realidade do País.

A Natureza queixa-se, os tufões e furacões são mais fortes e mais frequentes, o número de abalos sísmicos aumenta em quantidade e violência, enquanto no mundo se revogam leis que protegem as crianças e testam-se bombas nucleares.

Na banca, o verão de 2017 também não deixará boas memórias. A compra do Popular pelo Santander Totta poderá levar a mais uma redução no número de trabalhadores bancários; o Novo Banco ainda não terá a sua situação resolvida, aumentando a incerteza na vida de milhares de trabalhadores; há bancos que encerram agências em agosto por não conseguirem ter equipas em número suficiente para assegurar as operações, mesmo suprindo a falta de trabalhadores bancários por estagiários e trabalhadores temporários, que vêm ganhando um peso cada vez maior nas sucursais dos bancos.

A Autoridade Para as Condições do Trabalho (ACT) continua sem inspetores em número suficiente para conseguir fiscalizar os bancos quanto ao tempo de trabalho extra não remunerado (e poderia traduzir-se, além de medida profilática, numa interessante fonte de receita para o Estado, só na banca).

Ficámos a conhecer o método usado pelos bancos britânicos Lloyds e Barclays para medir a produtividade e determinar o tempo que os seus trabalhadores passam na secretaria, aumentando de forma incompreensível a pressão exercida sobre estes, como se não fosse já possível determinar a produtividade através dos sistemas de informação dos bancos.

Este retrocesso sem memória no respeito pelos trabalhadores atinge o seu auge com a vontade do presidente do Deutsche Bank de substituir massivamente trabalhadores por robôs, depois de sucessivas vagas de despedimentos para compensar pesadas multas pelos crimes cometidos com manipulação de taxas, câmbios, commodities, e resultados de exploração negativos, tornando os bancários verdadeiramente descartáveis.

Não podemos aceitar que os trabalhadores bancários se tornem descartáveis e lutaremos sempre a seu lado pela defesa dos seus direitos!

Cabe-nos a todos, pois, lutar permanentemente por transformar adversidades em oportunidades, recordando que a promoção e defesa dos valores coletivos, da igualdade, da liberdade e da solidariedade devem ser feitas diariamente em prol de todos os associados.

Mas queremos mais! Queremos que o verão de 2017 reserve algumas boas memórias.

O Sindicato dos Bancários do Centro está mais dinâmico e tem vindo a tornar-se mais eficiente, mais equilibrado e, acima de tudo, mais sustentável, sem retirar qualquer benefício aos seus sócios, o que constitui um motivo de orgulho para a presente Direção, e quer contribuir positivamente para a melhoria da qualidade de vida dos seus associados, tendo vindo a preparar algumas novidades que muito em breve serão divulgadas, com a certeza que serão bem-recebidas por todos.

Queremos que os nossos associados recordem este verão de 2017 como “o verão do nosso contentamento”.

Os sócios do Sindicato dos Bancários do Centro sabem que podem contar com o seu Sindicato, sempre!

 

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* Artigo de opinião publicado na revista Febase nº 76 (outubro 2017)