Administração da CGD chama representantes dos trabalhadores para reuniões ao final do dia. Banco vai acelerar rescisões amigáveis, devido a fraca adesão de pré-reformas e reformas antecipadas, para cumprir objectivo anual de redução de 550 pessoas até 2020.

A administração da Caixa Geral de Depósitos (CGD) vai  acelerar as rescisões amigáveis em virtude da pouca adesão das reformas antecipadas e pré-reformas, cujo prazo foi prorrogado de 31 de maio para 30 de Junho. O objectivo é garantir uma redução de 550 pessoas ainda este ano, num ritmo anual semelhante até 2020, ano em que a Caixa se comprometeu com Bruxelas reduzir 2.200 pessoas no âmbito do programa de reestruturação acordado para a recapitalização do banco público. A Comissão de Trabalhadores (CT) da CGD teme agora que o processo de rescisões “deixe de ficar  dependente do livre arbítrio de cada um, passando a haver pressão para a caixa atingir os objectivos de redução de pessoal”.

A revelação foi feita ao Jornal Económico por Jorge Canadelo, representante da Comissão de Trabalhadores da CGD, que esteve hoje reunido com a administração Caixa, pedida pelo próprio banco com os representantes dos trabalhadores – além da CT, a Federação sindical do Setor Financeiro (FEBASE, ligada à UGT) e o Sindicato dos Trabalhadores do Grupo Caixa – para comunicar o programa de rescisões.

Segundo Jorge Canadelo, ao contrário do que tinha sido sinalizado pelo anterior presidente da CGD, António Domingues e já pelo novo líder do banco, Paulo Macedo, de que o programa de rescisões por mútuo acordo “seria residual” e de que “não seria feito de forma significativa”, “vão ter de reforçar as rescisões em virtude do banco número de reformas antecipadas e pré reformas, que, até este momento, abrangeu cerca de 250 pessoas”.

Sobre as causas da fraca adesão destes últimos programas, Jorge Canadelo explica: “nos últimos anos, a CGD foi integrada nos cortes salariais da função pública e já não têm aumentos de salário desde 2010 – e este ano também foi dito que não vão ter. Ora os trabalhadores estão tão esmagados, o que gerou dificuldades sociais, nomeadamente pagar os créditos bancários ao próprio banco, que não lhes permite ir para a reforma face aos cortes que sofreriam nos atuais rendimentos”.

O responsável da CT da CGD avança ainda que o programa de rescisões poderá agora abranger todas as empresas do grupo CGD e não apenas a quem tem vínculo ao banco público, lamentando que ainda não haja um documento escrito sobre os timings, condições e número de pessoas que o banco quer ver abrangidas nos programas de rescisões amigáveis.

Na reunião com a administradora executiva, Maria João Carioca, com o pelouro da direcção de recursos e meios, Jorge Canadelo dá conta que “não foi entregue nenhum documento escrito, tendo sido dito que poderá ser entregue “nunca antes do prazo de uma a semana”.

“Não é forma de proteger a CGD, a reestruturação não se deve fazer só pelos custos mas também sobre outras matérias que possam melhorar as condições de serviço, avaliando se há ou não sobre capacidade de pessoal”, defende Jorge Canadelo, realçando que “a Caixa, sendo um banco público, tem outras missões, impostas pelo accionista Estado, que dificilmente serão cumpridas”.

Este responsável conclui que o plano de redução do banco até 2020, centrado apenas na redução de custo, é um passo errado e vai prejudicar a CGD e o País”.

Sobre anteriores programas de redução de pessoal, nomeadamente no âmbito das pré-reformas, Jorge Canadelo lembra que “apesar de ser numa base voluntária, verificamos um voluntário quase à força, com uma incidência de pressões que será agora muito mais forte”.

1,6 a 2,1 salários por cada ano a quem rescindir

Sobre as condições do plano de rescisões, Jorge Canadelo dá conta que ainda não tenham sido especificadas foram sinalizadas pela administradora da CGD, Maria João Carioca, que estariam dentro da média dos outros bancos: entre 1,6 a 2,1 salários por ano de antiguidade aos trabalhadores que aceitarem rescindir os seus contratos por acordo mútuo.

O responsável da CT revela ainda que, entre o final de 2016 e este ano, foram enviadas quatro cartas à tutela [ao Ministério das Finanças] a procurar esclarecimentos sobre  a restruturação, que também prevê fecho de balcões, e levar a posição da Comissão de Trabalhadores. “Nem sequer houve a delicadeza de responder, mas vamos enviar uma quinta carta e, se não houver resposta, faremos uma carta aberta”, afirma Jorge Canadelo.

No âmbito da recapitalização da CGD, foi acordado com Bruxelas um programa de reestruturação, que passa pela saída de cerca de 2.000 pessoas até 2020, através de pré-reformas e rescisões amigáveis, num ritmo de 500 a 600 por ano, além do fecho de balcões. Na redução de pessoal, a Caixa prevê gastar 150 milhões de euros.

Já este ano, deveriam haver 400 casos de reformas antecipadas e pré-reformas, sendo os restantes situações de rescisões. “Serão cerca de 200 reformas antecipadas e 200 acordos por pré-reforma e o numero adicional de rescisões por mútuo acordo”, disse recentemente Paulo Macedo no Parlamento.

A CGD tem vindo a emagrecer a sua estrutura nos últimos anos, nomeadamente com a saída de trabalhadores. No final de 2016, tinha 8.133 trabalhadores em Portugal, menos 297 do que em 2015.

 

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Créditos
Lígia Simões - O Jornal Económico
14 de Julho de 2017