O Millennium BCP é hoje um banco “forte e sólido”, preparado para crescer com as empresas portuguesas, ajudando-as a tirar partido do bom momento da economia nacional e a lançarem-se nos mercados internacionais. E preparado para tirar partido das dificuldades que outras instituições no mercado atravessam. Sem nunca fazer referência direta à Caixa Geral de Depósitos, Conceição Lucas, administradora executiva do Millennium, lembrou que o banco “já fez a sua reestruturação”, pelo que, ao contrário de outros, não está agora a discutir “fecho de balcões ou despedimento de trabalhadores”.

Conceição Lucas, que falava esta quinta-feira na abertura de mais uma sessão dos Roteiros Millennium Exportação, na Associação Empresarial de Portugal, em Matosinhos, dedicada ao mercado canadiano, começou por sublinhar que o BCP está “bem equilibrado” e que é um banco que, apesar de contar com uma base acionista “bastante diversificada”, tem uma comissão executiva “totalmente dirigida por portugueses”, mas cujas decisões são “enriquecidas” pela base acionista diversificada.

“É a nossa geografia, associada à riqueza de valor acrescida que a nossa base acionista nos traz, que nos permite olhar para o futuro com confiança”, garante a administrador do BCP. E porque o banco está “numa fase de crescimento”, Conceição Lucas desafia os empresários que queiram crescer também, seja por via das exportações, da internacionalização ou da associação a parceiros internacionais, através de joint ventures, a procurarem os serviços do Millennium, onde podem “encontrar soluções financeiras” adequadas a cada situação e setor. “Só têm de nos trazer os vossos projetos bem estruturados, sólidos e com uma componente de capitais próprios razoável e nós estamos disponíveis para vos financiar ou para vos arranjar parceiros nesses mercados”, sublinha.

Sobre o mercado em especial, coube ao Embaixador do Canadá em Portugal, Jeffrey Marder, explicar que se trata de um país aberto à diversidade cultural e que “aceita de forma muito positiva” a política de abertura à imigração das autoridades. “Todos os anos crescemos através da imigração e vamos continuar a fazê-lo”, diz Jeffrey Marder, que adianta que o limite anual de entrada de imigrantes estabelecido para este ano é de 300 mil pessoas. “O Canadá é um bom lugar para se fazerem negócios e investimentos. Somos um país que não tem problemas de segurança, temos um sistema de saúde completamente público e gratuito, e um setor bancário forte e confiável”, sublinhou o embaixador, lembrando, ainda, a proximidade aos Estados Unidos, “o maior mercado do mundo”.

Já António Silva, administrador da AICEP, assumiu a sua “surpresa” face aos valores das transações comerciais entre Portugal e aquela que é a 10ª maior economia do mundo: 358,3 milhões de euros de exportações em 2015, valor que baixou para 281,3 milhões em 2016.

“Não é um valor mau, mas está muito longe do potencial do mercado”, afirmou António Silva, considerando que o acordo comercial entre a União Europeia e o Canadá, que deverá entrar em vigor a partir de junho, “constitui uma oportunidade enorme” para as empresas portuguesas. Francisca Lucena e Valle, técnica da AICEP, fez o breve enquadramento da economia canadiana, sublinhando que se trata do segundo maior país do mundo, com 36 milhões de habitantes divididos por 10 províncias e três territórios, sendo que só as províncias do Ontário e do Quebec são responsáveis por 62% da população e 57% do produto interno bruto.

O PIB do Canadá é sete vezes superior ao português, com uma previsão de crescimento de 2% para os próximos dois anos. Em termos per capita, o PIB canadiano é de quase 44 mil dólares, mais do dobro do nacional. O Canadá é o 9º maior importador mundial e o 12º maior exportador. Em termos turísticos, é a 9ª economia mais competitiva do mundo. No que ao investimento diz respeito, o Canadá é o 9º maior emissor a nível mundial e o 10º recetor.

Embora sem dados oficiais sobre o investimento português no Canadá – o Banco de Portugal deixou de fornecer estes números – a AICEP refere que há registo de 20 empresas portuguesas com investimento direto no país, com destaque para os setores automóvel, da energia, das TIC’s e das embalagens. Já os canadianos investem em Portugal, essencialmente, na indústria mineira e nos serviços.

A Frulact é um dos exemplos mais recentes de investimentos portugueses no Canadá. A empresa de preparados de fruta tem já a funcionar a sua mais recente fábrica, em Kingston, a pouco quilómetros da fronteira da costa leste dos Estados Unidos, num investimento de 18 milhões de euros. Duarte Faria, CFO da Frulact, admite que o objetivo da empresa é usar esta unidade, numa segunda fase, como plataforma de abastecimento dos EUA.

A experiência da Cotesi no mercado norte-americano tem já mais de três décadas, sendo que, destaca Pedro Violas, CEO da Cotesi, metade dos 200 milhões de euros de faturação consolidada da empresa advém já destes mercados. Já o grupo The Fladgate Partnership, que detém a Taylor’s, entre outras marcas de vinho do Porto, destaca a “vocação” do consumidor canadiano pelo consumo de produtos de qualidade: “Cerca de 70% do consumo de vinho do Porto no Canadá é de categorias especiais, ou seja, mais de dois terços dos vinhos consumidos no país são topos de gama”, sublinhou Nick Heath, administrador do grupo.

A Sonae Indústria é das empresas portuguesas com mais anos de presença no mercado canadiano, através da Tafisa. Uma fábrica que integra o universo Sonae desde 1995, quando a Sonae Indústria adquiriu a espanhola Tafisa que tinha já em funcionamento, desde 1992, a fábrica no Canadá. “Estamos no meio do nada, a 600 quilómetros de Montreal e a 30 quilómetros da fronteira com os Estados Unidos, não é fácil conseguir e manter pessoas, mas os recursos humanos têm uma excelente formação e uma forma “muito pragmática” de funcionar”, diz Chris Lawrie, CFO da Sonae Indústria. Com tanto ano de presença no mercado, a Sonae Indústria não tem dificuldades em financiar-se. “O setor bancário é conservador, mas é forte. Financiamo-nos localmente”, frisa. Cerca de 45% da produção da Tafisa destina-se aos Estados Unidos, mas o objetivo da Sonae Indústria é aumentar a sua presença no país de Trump.

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Créditos
Ilídia Pinto - Dinheiro Vivo
25 de Maio de 2017