Nos dias 11 e 12 de outubro, 43 participantes vieram com o SBC conhecer o Alto Alentejo, numa viagem de dois dias que juntou paisagem, cultura, gastronomia e convívio. Foram dias de sol e boa disposição, perfeitos para descobrir uma das regiões mais autênticas do país, onde o tempo parece correr com calma e tudo convida à contemplação.
A viagem começou bem cedo, com partida rumo ao Entroncamento e embarque num comboio com destino a Vila Velha de Ródão. O percurso ferroviário, ladeando o rio Tejo, revelou-se uma experiência única: as margens cobertas de verde, as barragens de Belver e Fratel, o castelo de Almourol a refletir-se nas águas — um autêntico postal em movimento, que prendeu o olhar de todos.
Em Vila Velha de Ródão aguardava-nos um dos momentos altos da viagem — um passeio de barco com almoço a bordo pelas Portas de Ródão. As encostas quartzíticas que formam o Monumento Natural criam um cenário majestoso, quase sagrado, onde a natureza e a história se encontram. Durante o percurso, foi possível observar a imponente colónia de grifos que ali nidifica, o Conhal do Arneiro, vestígio da exploração romana do ouro, a Ilha dos Pescadores e a Fonte das Virtudes. Enquanto o barco deslizava serenamente pelo Tejo, o grupo desfrutava do almoço e da paisagem — um momento de convívio e deslumbramento difícil de esquecer.
De regresso a terra firme, seguiu-se a visita ao Lagar de Varas, em Vila Velha de Ródão, onde ainda se preservam as antigas estruturas de fabrico do azeite. A visita permitiu conhecer de perto um engenho tradicional e compreender a importância deste produto na economia e cultura alentejana.
A viagem prosseguiu até Nisa, onde a receção não podia ter sido mais saborosa. No acolhedor espaço “Quintal da Festa”, os participantes foram recebidos com uma prova de produtos regionais — queijos, enchidos, pão e vinhos — com destaque para o queijo de Nisa, um dos mais reputados de Portugal, de sabor forte e textura amanteigada. Depois da degustação, o grupo percorreu a famosa “Ruinha”, uma rua singular pavimentada com olaria pedrada, fragmentos de cerâmica colorida que formam um verdadeiro mosaico artístico. Um exemplo perfeito da criatividade e identidade da vila.
À noite, o destino foi Castelo de Vide, onde a visita decorreu já sob o luar, conferindo à vila um encanto especial. As ruas estreitas e inclinadas, as fontes e praças convidavam à descoberta. O grupo passou pela Praça D. Pedro V, marcada pela grandiosa estátua do monarca que apelidou a povoação de “Sintra do Alentejo”, devido à sua beleza e carácter romântico, e pela Fonte da Vila, ponto de encontro e símbolo de vitalidade de toda uma população, junto à qual se encontra a Oficina-Museu do Mestre Carolino, espaço dedicado à arte tradicional de trabalhar o ferro, herdeira das antigas oficinas judaicas que ali se instalaram no início do século XVI, reforçando o peso da influência judaica na história da vila.
A visita noturna incluiu ainda uma passagem pela casa onde nasceu Salgueiro Maia, figura incontornável da Revolução de Abril, cuja coragem e espírito patriótico são motivo de orgulho para Castelo de Vide e para o país. Recordar ali, no silêncio da noite, o nome de quem ajudou a devolver a liberdade ao país, foi um momento de respeito e emoção.
Mas Castelo de Vide revelou-se muito mais do que um espaço de memórias. Mostrou ser uma vila que se reinventa, que olha para o futuro com dinamismo e criatividade. Novos espaços de convívio, bares acolhedores e restaurantes de ambiente moderno dão nova vida às ruas antigas, demonstrando que o património e a modernidade podem caminhar lado a lado.
O segundo dia começou em Marvão, um dos mais belos e emblemáticos burgos de Portugal. Situada no alto da serra do Sapoio, esta vila muralhada, cuja origem é atribuída ao lendário Ibn Maruán, oferece vistas deslumbrantes sobre o Alto Alentejo e a vizinha Extremadura espanhola. Dentro das muralhas, as ruas empedradas e o casario branco guardam um charme intemporal. Com a omnipresença do frondoso castelo, os participantes puderam visitar o pelourinho, a Igreja de Santiago, a antiga cadeia e tribunal, ou o jardim do castelo, de entre muitos locais que testemunham a importância histórica de Marvão e a forma como a vila soube preservar o seu património.
Antes de regressar, houve ainda tempo para uma paragem junto à ponte quinhentista de Portagem, que atravessa o rio Sever e é vigiada pela sua torre medieval. Foi por ali que os judeus expulsos de Castela terão entrado em Portugal, deixando essa marca profunda na cultura e na história da região — especialmente visível em Castelo de Vide. Junto à ponte, a praia fluvial de Portagem mostrou-se como um espaço aprazível, de águas límpidas e paisagem serena, ideal para os dias quentes do verão alentejano.
O regresso fez-se em ambiente de alegria e partilha, com o sentimento de quem viveu uma experiência completa e extremamente enriquecedora. O propósito do SBC de proporcionar aos seus associados e acompanhantes uma viagem de descoberta, marcada por bons momentos e companheirismo foi coroada com sucesso, mas também com a certeza de que o Alto Alentejo continua a ser um tesouro à espera de ser explorado, com tempo, curiosidade e espírito de grupo.
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