Por Ana Maria Costa
Sócia n.º 4.081
Dantes, as portuguesas tinham no seu nome próprio Maria. Chegávamos à escola primária, feminina, e as Marias passavam a ter só o segundo nome: a Céu, a Helena, a Jesus, a Prazeres e a Rosário. Um segundo grupo, era as que tinham Maria em segundo: a Ana, a Flora, a Isabel, a Cristina e a Teresa. E as outras: a Alexandra, a Joana, a Paula, com segundos nomes como Isabel, Margarida ou Fátima.
Este mês de Maio é o de todas as Marias.
Do Céu em Fátima no dia 13.
Da Maria Teresa, da Maria de Fátima e da Maria Isabel, de apelido Horta, Velho da Costa e Barreno, editadas por uma Natália, que não era Maria, Correia. Escreveram as “Novas Cartas Portuguesas” prefaciadas por uma Maria de Lourdes, que viria a ser Primeira Ministra, Pintassilgo e que delas disse ser “uma nova forma de dizer a pessoa humana e o seu modo de estar no mundo”.
“As três Marias”, como ficaram conhecidas, em 1971 denunciavam a desigualdade, a pobreza e a Guerra Colonial e davam voz às mulheres e aos seus corpos e, como tal, a obra foi apreendida pela censura sob o pretexto de conteúdo pornográfico. Pela qualidade da escrita e pela crítica ao regime, o livro foi traduzido e editado em várias línguas e, ainda hoje, constitui uma obra fundamental na literatura e cultura de língua portuguesa e mundial.
Com julgamento marcado, em Maio de 1974, saíram do Tribunal em ombros como mereceram pela sua coragem, determinação e talento. E com elas iam todas as Marias de Portugal e as Mulheres que não são Marias.
Parabéns pelos 50 anos e pelas, merecidas, comemorações que a Secretária de Estado para Cidadania e Igualdade promoveu com a leitura de alguns dos textos pelas 8 Ministras e 18 Secretárias de Estado.
Também nós, as outras Marias, Mulheres, aceitamos o desafio: vamos ler “As Novas Cartas Portuguesas”, agora, reeditadas.
Ligações úteis:
As Três Marias: o antes, o depois e o impacto das ‘Novas Cartas Portuguesas’
Novas Cartas Portuguesas: Homenagem das mulheres do XXII Governo – Rosa Monteiro
Rosa Monteiro no Facebook
“As mulheres censuradas no Estado Novo”, edição do Jornal “Público”.
Artigo de opinião originalmente publicado no Jornal dos Bancários nº 24 de Maio de 2021