Artigo de opinião

 

Naquela madrugada de 25 Abril de 1974, forças militares ocuparam pontos estratégicos em Lisboa e derrubaram a ditadura do Estado Novo. A Revolução dos Cravos ficou assim conhecida graças a uma mulher, Celeste Caeiro, que repartiu cravos vermelhos pelos militares, que os colocaram nos canos das espingardas, tornando-se esta uma metáfora que representa a conquista da liberdade.

Não seria descabido, por conseguinte, afirmar que este dia representa também uma revolução dentro da Revolução: ser mulher, antes de Abril, era viver condicionada: nos direitos; nas liberdades; na igualdade! Os exemplos da dificuldade da condição de mulher são demasiados.

Todos ganharam com o 25 de Abril em Portugal, mas as mulheres em especial! Porque de repente descobriram que podiam ir para a rua, podiam dizer não, podiam dizer o que sentiam! Contudo, no chamado “período quente”, depois da Revolução, as manifestações de luta pelos direitos da mulher foram violentamente reprimidas, seguramente devido à mentalidade machista ainda vigente.

Mas a sociedade evoluiu e a Constituição da República, de 1976, vem instituir a igualdade entre Homem e Mulher, a reforma do Código Civil traz a abolição de disposições discriminatórias do direito de família, acabando com o “estatuto” de dependência na família, o início da contratação coletiva dá passos importantes no tratamento das matérias relacionadas com a proteção da mulher no trabalho, na gravidez e na maternidade e havia já sido fixado o Salário Mínimo Nacional, em 1974, medida que tendia a diminuir as diferenças salariais entre género.

Hoje, passados 43 anos sobre esta importante data, vemos a opinião pública mais consciencializada no que respeita à igualdade de género, as mulheres constituem uma parte importante da mão-de-obra no mercado de trabalho, representando cerca de 50% da força de trabalho e existem mais mulheres a estudar nas universidades do que homens. O gap entre salários diminuiu, embora ainda seja uma realidade.

No entanto, há sectores de atividade em que os estereótipos permanecem. As mulheres são ainda uma minoria quando se fala de CEO’s de grandes empresas, administrações de bancos e grandes empresas, ministros, cargos de ministério, secretarias de Estado. No Parlamento é ainda uma percentagem diminuta e é difícil uma mulher chegar a primeira candidata. Desde Abril de 1974, apenas uma vez, em 1979, o cargo de primeiro-ministro foi ocupado por uma mulher, Maria de Lurdes Pintassilgo e num Governo resultante de iniciativa presidencial.

O problema persiste na representação social da mulher. A sociedade continua a ser muito mais atenta e intolerante para com as mulheres, sempre à procura de uma falha, de um defeito, como se ser mulher implicasse ter de ser perfeita.

Como em tudo na vida, creio estar no equilíbrio e no bom senso a virtude de todo o processo de mudança de mentalidade que temos vindo a viver. Quando este processo atingir mais alguma maturidade, acredito que se possa compreender que a evolução se faz com um enorme respeito pelo passado, mas também com uma grande determinação em direção ao futuro e com humildade suficiente para reconhecer e aprender com os erros e corrigir os excessos cometidos, atribuindo, assim, à mulher o seu lugar, por direito, na sociedade, em todas as suas dimensões usufruindo da liberdade conquistada!

Helena Carvalheiro
Presidente da Direção do SBC

 

 

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