Confundindo-se com a própria história da reconquista do reino aos mouros, a linha defensiva dos Castelos do Mondego é uma importante marca paisagística que carrega uma forte componente histórica e cultural, que perdura há mais de dez séculos, fazendo parte da tradição popular, dos seus mitos e mistérios.
Descobrir a história e os mistérios que alguns destes castelos encerram foi o mote para que trinta participantes no VI Encontro de Motas do SBC partissem à aventura pela região de Coimbra, numa organização do Secretariado Regional de Coimbra.
Do Castelo de Penela, primeira paragem do percurso, diz-se que a reconquista definitiva de Coimbra, em 1064, conferiu a esta fortificação um papel decisivo na linha defensiva da cidade condal, pela sua posição estratégica na estrada que ligava o Baixo-Mondego a Pombal e Santarém, o que tornava Penela num ponto de passagem obrigatório dos exércitos muçulmanos.
De passagem pelo Castelo do Germanelo, edificado em 1142 para coadjuvar Penela na defesa da região, e onde se pode ter um amplo domínio visual sobre o vale do Rabaçal, território que os documentos medievais designam por Ladeia e que, desde os tempos da ocupação romana, constituiu um corredor de circulação natural, é, ainda hoje possível perceber a difícil acessibilidade, razão da sua estratégica localização.
Com a reconquista de Coimbra em 1064 e a reorganização que o território sofreu com D. Sesnando, a povoação da Ega, nosso próximo destino, terá integrado a Linha Defensiva do Mondego, facto coadjuvado pelos relatos das investidas almorávidas, com destaque para a que em 1116 fustiga Soure e Ega. Acredita-se que o local de implementação do Paço da Ega, espaço privado, terá sido palco de construção de algumas estruturas de caracter militar no decorrer do domínio islâmico, seguramente do século X em diante, eventualmente anteriores, como os vestígios omíadas levam a crer.
Aqui, após um ligeiro reforço para nos habilitar com a energia necessária para continuar essa missão de redescobrir a importância dos castelos para garantia da soberania, o grupo dirigiu-se até ao Castelo de Soure, que, contrariamente ao que é costume observar nos castelos medievais, foi erguido numa zona plana, o que poderá ser explicado pela proximidade ao local onde os rios Anços e Arunca confluíam. Os templários terão feito de Soure a casa mãe de um vasto domínio cuja importância estratégica assentava no facto deste castelo se estruturar em torno de uma grande via de acesso ao norte, a velha estrada romana que ligava Olissipo (Lisboa) a Bracara Augusta (Braga).
Procurávamos um gazofilácio que nos revelasse um tesouro, que encontrámos à mesa, nessa verdadeira pérola da gastronomia portuguesa, a sardinha.
Que mistérios nos reservariam os próximos destinos? Presume-se do século XV o Castelo de Redondos, num dos pontos mais altos de Buarcos, de que resta apenas parte das paredes de alvenaria de pedra.
Chegámos, por fim, ao Castelo de Montemor-o-Velho, onde não encontramos apenas um castelo destinado a albergar uma guarnição militar, mas uma vasta muralha em cujo interior terá residido grande parte da população, pelo menos enquanto as investidas muçulmanas foram uma ameaça. Cumpria-lhe, sobretudo, defender a região do Mondego de eventuais incursões inimigas vindas por mar.
Num percurso que, por mais de 150 km, nos levantou um pouco mais o véu dos mistérios que a história de Portugal guarda, fica a vontade de continuar a descobrir os segredos que o distrito de Coimbra tem para oferecer, num passeio que colheu o agrado de todos os que nele participaram.
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