Por Eduardo Alves
Coordenador do Secretariado Regional de Coimbra
Conquistar o apoio e a confiança sindical dos jovens bancários é um dos principais desafios para o Sindicato dos Bancários do Centro. Não se pode dissociar o futuro do sindicato da mitigação deste tema.
A integração dos jovens no sindicalismo não é fácil e não é imediata, pelo que fará sentido considerar uma abordagem estratégica específica e sustentada. Mas já lá iremos. Os jovens têm hoje uma forma diferente de estar, muito mais tecnológica e com menos contacto pessoal, ao mesmo tempo que são muito práticos e criativos.
Mas é também difícil conseguir que os jovens bancários hoje abracem a vida sindical, seja como Delegados Sindicais, que têm uma elevada importância para os sindicatos, por permitirem compreender melhor a realidade de cada uma das Instituições Financeiras e fazer pontes entre os trabalhadores e o SBC, ou desenvolvendo uma estrutura de jovens que possam formar um núcleo de aconselhamento das Direcções dos Sindicatos, facilitando a construção de estratégias sindicais envolventes e verdadeiramente centradas nas questões que preocupam os jovens trabalhadores.
A experiência sindical de dirigentes de referência é, aqui, de uma enorme mais-valia para esse processo, proporcionando uma curva de aprendizagem da envolvente sindical mais curta e, quem sabe, preparando futuros líderes sindicais.
As relações laborais estão em permanente transformação. O emprego para a vida já não existe e, desde o teletrabalho ao nomadismo digital, o ciclo nunca para! Consequência desta mudança são as várias funções ou profissões que vão surgindo ou extinguindo.
A geração que hoje mais se enquadra na definição de jovens trabalhadores é a denominada geração Z. São jovens nascidos na última década do século passado e estão a trazer grandes disrupções para as relações laborais, provocando mudanças profundas na forma como se relacionam com as entidades patronais, com um maior distanciamento emocional do seu trabalho.
Ágeis, práticos e criativos, têm uma capacidade extraordinária de absorver informação com rapidez. Se as respostas não são imediatas, eles irão procurá-las. São jovens que querem ser valorizados e que estão muito conscientes da relevância do seu trabalho nas organizações.
Muito focados na sua própria carreira, apresentam traços mais marcados de individualismo do que as gerações anteriores. Apesar de nos poder parecer algo contraditório e de terem uma faceta mais autocentrada, facilmente se comprometem com causas que consideram importantes.
São características tão diferenciadoras que os sindicatos precisam compreender como vão conseguir despertar a sua atenção para as causas que defendem e pelas quais lutam e como elas são importantes para garantir uma melhor qualidade de vida e a preservação do trabalho e dos direitos laborais.
Aqui chegados, impõe-se uma questão: Como conseguir envolver os jovens?
Pensar estrategicamente e agir operacionalmente significam dominar o presente e conquistar o futuro, afirma Alexandre Wander, professor e investigador em Avaliação de Empresas e Finanças Corporativas, pelo que o ponto de partida terá de ser o desenvolvimento de pensamento estratégico, soft skill essencial para criar e resolver estratégias e desafios de forma eficiente.
Conhecer bem o perfil dos jovens trabalhadores é a forma de se conseguir estreitar laços, compreender as suas necessidades, quais são as suas prioridades, o que esperam do sindicato.
Sabemos que esta geração é atenta a causas e mobiliza-se por aquilo que considera justo. Deve-se, pois, procurar identificar as suas causas, os que os move e o que os poderá motivar para a vida sindical, levando-os a compreender que é importante lutar colectivamente por direitos e ideias.
Mais do que palavras de ordem, muito caras aos sindicatos, é necessário adequar a linguagem a este público-alvo, para que compreendam a comunicação sindical e não a descartem por lhes parecer desajustada.
Os jovens gostam de ser ouvidos, têm coisas importantes a dizer e os sindicatos devem desenvolver canais de diálogo para manter um diálogo com eles. Nos conteúdos de comunicação de um sindicato, os jovens devem ser estimulados a interagir, seja com comentários, dicas, críticas ou sugestões. Poderá ser uma boa ideia para estreitar a relação.
Muito ligados à tecnologia, em resultado da familiaridade com as redes sociais, séries de TV, vídeos do YouTube e múltiplos conteúdos digitais, será razoável pensar em criar conteúdos com uma estética mais apurada, com uma mensagem mais direccionada, que se mostrem mais atraentes e interessantes para os jovens trabalhadores.
É, pois, fácil perceber porque preferem o estímulo de assistir a um vídeo animado a um estático e aborrecido texto. A relação que têm com o ambiente mediático das redes sociais, Facebook, tik tok, instagram, Snapchat, etc., que privilegiam fotografias e conteúdo audiovisual, contrasta com a limitação de caracteres do Twitter, por exemplo. Por isso, cada vez mais a opção de produzir conteúdo em vídeo se mostra acertada e capaz de mais facilmente chegar a este público.
Mas nada disto resultará se a comunicação não for ágil e diligente. Para estes jovens o que aconteceu ontem já não é relevante e devemos ter presente que eles não gostam de estar muito tempo à espera.
Uma resposta rápida e uma informação acessível, por exemplo, podem fazer com que os jovens vejam o sindicato com outros olhos.
Fomentar espaços formativos em ambiente sindical poderá ser o melhor complemento a uma estratégia de comunicação multicanal e omnidireccional, segmentada, inclusiva e de causas. Um espaço de partilha, de formação e de informação aberto a todos os jovens trabalhadores na área de actividade dos sindicatos num ambiente informal e descontraído.
Se um sindicato mostrar que valoriza os jovens trabalhadores e procura activamente resolver os seus problemas, usa uma comunicação simples, directa e eficaz e tem um discurso coerente com a prática estará a demonstrar que compreende que o que estiver a fazer hoje terá reflexo nas decisões dos trabalhadores no futuro.
Fontes: IPDJ, GeCo.mpany, Atrevia, Mundo Educação